Em semana eleitoral autárquica o Sr. Blair temia que um dos dois escândalos que corroem o seu governo piorasse. Pois agravaram-se os dois. O Secretário (ministro) do Interior que permitira irregularmente a libertação de condenados alvos de expulsão, ou a aguardar decisão sobre ela, viu seis deles reincidir em curto espaço de tempo, tendo um incorrido na mediática repugnância que rodeia uma violação. Para cúmulo, a relação adulterina do substituto formal do PM, John Prescott, conheceu novas revelações, com a ex-amante a contar a história toda à Imprensa, em troca de 250.000 libras.
À primeira vista pareceria muito mais grave o primeiro caso. Tem, aliás, suscitado campanha cerrada da oposição Conservadora. Mas, dentro do próprio Partido Trabalhista, é a cabeça de Prescott que é pedida. A velha regra de que as escorregadelas sexuais penalizavam mais os Conservadores, por colidirem com o discurso oficial do partido, mais próximo de uma moralidade orientada para a coesão familiar, está aqui a ser infirmada. E importa perceber porquê.
É que a ligação perigosa do Membro do Gabinete era a ex-secretária, logo integrava, no sistema britânico, o Civil Service. E os súbditos de Sua Majestade sempre foram muito ciosos da independência do seu funcionalismo face aos políticos, por confiarem bastante menos nestes. Para cúmulo, a entrevistada confessou que serviram para as acrobacias de ambos instalações governamentais, com portas abertas que permitiram a outros servidores da Coroa aperceber-se da coisa e, num dos casos, tendo, insensivelmente, tido lugar logo após um Serviço religioso em honra dos caídos no Iraque.
Muito mais do que numa quebra dos interditos relacionados com o relacionamento com subordinados, ou mesmo da elisão de confiança que a traição marital envolve, o grande clamor deve ver diagnosticadas as respectivas origens na falta de respeito de um "arrivista partidário" perante o corpo estatal que os ingleses mais apreciam.