Por estas e por outras é que sou contra a entrada da Turquia na UE. Não pelo que as suas gentes são, mas pelo que muitas delas querem ser. A laicidade do País foi imposta há oitenta e tal anos com brutalidade e é hoje mantida com artificialidade. Kamal Ataturk usou a pena de morte para quem usasse o fez, em vez do chapéu ocidental. As actuais leis vedam o acesso a postos da função pública às mulheres que usem véus e aos homens com talhe de barba islâmico. Mas no segredo das cabines de voto ganha um partido religioso, só moderado na liderança e no programa, porque os militares não deixariam que fosse radical.
Quando um insuspeito advogado mata e fere juízes - o outro pólo da protecção ao laicismo - por manterem uma decisão que prejudicava a carreira de uma professora pelo uso da cabeça coberta, aos gritos de «Allah é Grande!», são os impulsos predominantes naquele povo que se soltam, até porque o governo eleito vai, prudentemente, falando no aligeiramento das restrições.
Cabe à União Europeia determinar se quer prosseguir na cegueira de ver um caso isolado no que é uma latente vontade popular. E se, independentemente do nome, podemos correr o risco de ter aquilo cá dentro.