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A 6 de Agosto de 1945 um aparelho americano lançou uma bomba atómica sobre Hiroshima, deixando-a no estado que se vê. O pintor Standish Backus inspirou-se no tema, ao conceber o seu «Jardim em Hiroshima, Outono». Para que se veja como, mesmo filtrada pelo horror que a enforme, uma obra artística é sempre mais tolerável do que a vil realidade. Que, no caso, foi uma opção consciente pela carnificina instantânea e sequelas emergentes, de um poder muito materialista, que temeu não ter o lançamento inicialmente previsto, sobre o Monte Fuji, os efeitos de abatimento suficientes que levassem à capitulação. Há um pormenor agravante: o Imperador Hirohito tinha, dias antes, encetado, por intermédio da URSS, aproximações para a paz. A versão norte-americana atira as culpas para as costas largas de Estaline, por ter arrastado as coisas. Mas o mais certo é que Washington tenha querido testar, num alvo real, a bomba mais estúpida do mundo. Tão grave como o acto foi e é a ausência de remorso.
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